Terça-feira, 05.11.13

Curto e Belo

Já não estou bronzeada. A frase que antecede a presente implica que em algum momento deste suspiro que é a vida o doce raio de sol veranil me beijou a pele pecaminosa. Pois bem, afirmo que sim audaciosamente. As feias mulheres de Moçambique talvez cobicem a minha tez pálida e escorridos cabelos negros, talvez vejam num tom de pele como o meu a personificação do que não são e por isso, pois bem, se comparem à minha pessoa. Peco pela cor, pela luz que tem nome e tudo, e pela sombra que sobre ela cai. É inverno, já?
Onde foi o meu Verão, onde foram os cabelos revoltos pelo sal, pés de areia e caminhos de mar pela sala. Terei eu deixado parte de mim, a infeliz, no mar? A felicidade não ficou lá, mas esteve na praia. Quero o meu Inverno como tive o meu Verão: curto e lindíssimo. Inverno hoje, inverno até à meia noite, e depois chuva. Chuva, chuva, chuva.

Sou feliz quando estou com o mar.

publicado por verbistantum às 21:45 | link do post | comentar
Segunda-feira, 04.11.13

Arranhão

Comprar lingerie que ninguém para além de mim vai ver é uma espécie de acto de desespero porque as pessoas que não estão desesperadas estão mortas.

A mão que passeia longe do mundo e debaixo do virgem linho branco, o suor frio e as pontas dos dedos quentes. Afagar o algodão até sentir a fria tira de fios de seda; arranhar pele pressionada e presa como a presa que é perante o ambiente que conhece, perante a antítese do hostil, perante o predador que apresenta um canibalismo selectivo delicioso. Morder o lábio, morder-lhe o lábio para que não se esqueça de que aqui esteve, que aqui estive, neste sonho.

Afagar, ser violento a afagar a pele, respirar, inspirar a pele e rasgar a pele como um acto de penetração mais puro que o sexo, visceral, primário, um que sangra como os deuses não sangram, mortal, mortífero, intencionalmente e puramente mau, pecados à mostra, peito aberto que inspira a respiração ofegante de Dante, lança de Aquiles, espada de Marte, canção de rock ouvida num descapotável num deserto chuvoso, comboio de alta velocidade, luz branca na íris, vento glaciar, águas de Liverpool, tequila de Oaxaca, motor de combustão, meu, minha, provocar incêndios, mostra tudo e expõe e marca e faz e dói e grito e grita e fica: Um arranhão.
Um arranhão é sexo, pode ser sexo, quando propositado. Nunca fodi a roseira nem ela me fodeu a mim, esses arranhões não são sexo meus senhores, mas este aqui é. Este, que é o meu segredo hoje.

publicado por verbistantum às 21:12 | link do post | comentar
Domingo, 03.11.13

Voltar a Casa

 

 

Todos os dias o vejo no metro. Curioso, isso: Sei que não está lá mas encontro-o por uns instantes todos os dias. Assemelha-se a rezar, a acreditar cegamente por momentos.

 

Gosto de andar de costas nos autocarros, no metro, nos comboios. Ver o que já foi visto muito antes pelos outros, o que por eles já foi descartado, o que já não tem ou nunca verdadeiramente teve interesse. A poesia está aí.
O rosto que esmoreceu ao avistar um novo edifício desinteressante, o rosto que se iluminou quando viu o reflexo de uma fêmea alourada a folhear um livro de romance mau, a felicidade momentânea de quem primeiro avista a luz ao fundo do túnel, o mar que depressa se aproxima. As pessoas que caminham, as que esperam, o deixar cair de uma moeda e o simpático gesto de a apanhar e devolver. O carteirista pouco habilidoso. A velhota que se enche de cobiça e conta notas como em Crime e Castigo. A bengala perdida que atrás traz um ser humano debilitado. Toda uma fauna, toda uma palete de histórias, que quem viaja 'de frente' não repara. Prefiro adolescentes apaixonados a horas e nomes de estação. Prefiro, às vezes, tem dias. Se calhar é por isso que chego sempre atrasada.

 

 

publicado por verbistantum às 18:54 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sábado, 02.11.13

Felicidade

A felicidade é só um conceito abstracto até nos atingir em cheio. Depois percebemos.


publicado por verbistantum às 20:19 | link do post | comentar
Sexta-feira, 01.11.13

Bound By

At five, Gregorius called Constantine Doxiades, his eyes specialist. They had often called each other in the middle of the night to share their common suffering from insomnia. Sleepless people were bound by a wordless solidarity. Sometimes he played a blind game of speed chess with the Greek, and afterwards Gregorius could sleep a little before it was time to go to school. Night train to Lisbon, Pascal Mercier

publicado por verbistantum às 02:17 | link do post | comentar

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