P(ele)
Deixar o hábito - rasgá-lo até - é uma história que não quero partilhar. Desculpem, sou muito má pessoa. Quando estiver deprimida escreverei sobre o dia de hoje com saudade. Um vislumbre, uma inquietação.
Sou uma puta que não fode corpos.
Os cheiros nunca me incomodaram tanto como os sons, coisa estranha esta de estar sempre incomodada com algo. Mas o tabaco nos dedos, nos lábios, impregnado no cabelo lavado e molhado começou a deixar-se notar. A cinza que cai no chão e se parte em bocadinhos de alma minha que não vou recuperar. Cai outra vez, perco os mesmos bocadinhos de novo. Outra e outra vez. Sou a cinza, o que já foi, o que passou ou o que aconteceu depois de ter passado. Será que sou apenas isso? A folha queimada, o fumo que desvanece.
Não fodo corpos porque consigo, porque não quero, porque já estou preenchida pela memória sempre presente de um fantasma que acorda, almoça, janta e adormece comigo. Durante o resto do dia está presente em intervalos de minutos, horas, segundos. Merda, já estou quase a citar Pessoa. Que erudita. Uma puta que lê. Isso dava um livro engraçado, eu lia-o.
A melhor das putas é a que não se despe, a que não fode, a que não precisa de estar lá. Eu sou a melhor das putas porque fodo almas.
Nem a mim me fodo bem -- que triste. Talvez tenha lido livros a mais (o que duvido seriamente mas fica bem reforçar que sou bem lida até porque uma puta que lê é mais estimulante quando é virtual) ou tenha visto um ou dois filmes demasiado maus: Mas isso não tem nada a ver. Gosto da palavra foder. Gosto. F-o-d-e-r, foder. Gosto da palavra desde que a li e reli num livro que comprei há uns meses. O autor também gosta, então é porque deve ser uma boa palavra. Enfim, puta ou pseudo-puta gosto de palavras e de me sentir fodida por elas. Também as uso, mas isso conto depois.