Seda

Gostava de como o preto contrastava com a sua pele, como reflectia nos seus olhos e os fazia parecer ainda mais escuros. As transparências e os cetins, mais do que as rendas, atraiam-na. Sentia-se bem, sentia-se segura quando usava tecidos tão delicados sobre a pele. As sedas que escorregavam e se moldavam a ela preenchiam todos os requisitos que exigia numa peça de vestuário tão íntima: faziam-na sentir confiante, mais confiante e sensual e fariam-no querer despi-la em segundos.
A seda parece que escorrega nos dedos, parece que é água de um rio de desejo que se molda para ser penetrado a qualquer momento por ternura, ou pelo sorriso fugidio de alguém pelo qual temos carinho. Não era a roupa que era importante, era o facto de ela se ter vestido para ser despida por ele. Usava o que ela sabia que ele gostava. Vestia o que queria que ele rasgasse ou pacientemente explorasse, porque queria que ele a saboreasse como estava. As ligas afundavam-se na pele, criavam uma pequena depressão que apetecia, e a temperatura do quarto deixava-se sentir.
O brinco de pérola reflectia os raios de um sol primaveril que ameaçava um verão antecipado e a cama feita com toda a atenção acolhia-a sem hesitação. À excepção do chocolate que estava nas almofadas e foi posto na mesa de cabeceira, mais nada foi alterado no quarto. Meias, cinto de ligas e brincos de pérola. E ela. Estava deitada, de barriga para baixo, de pernas juntas e rosto pousado nos lençóis.
Os cinzentos, pretos, brancos e azuis depressa se soltaram dos corpos, decorando a alcatifa com pontos de cor desnecessários.
As meias, rasgadas no primeiro contacto, decoravam a cama que tinha agora dois corpos em si.
Com a mesma delicadeza com que a abelha suga o mel da flor, o calor dele tocava-lhe na alma mesmo antes de se fazer sentir sobre a pele.
Depois, quando a respiração era regular e os beijos de contemplação, pôs a mão por baixo da cabeça dela, ficando entre o lençol e os cabelos negros que cheiravam a frutos; e a ele. Com a outra mão passou os dedos pelos lábios dela, pelas maçãs do rosto, pela pele cheia de cor. Aquele beijo na testa que demorou muito além do esperado trazia consigo uma mensagem que queriam os dois partilhar um com o outro: Obrigada.
publicado por verbistantum às 02:35 | link do post | comentar