Transportado
Há dezenas de pequenos tiques observáveis numa sala cheia de pessoas, de pessoas diferentes, como aquela. Cada um deles pode não significar nada, nada para si, ou pode ser incrivelmente importante para uma, duas, mais pessoas. Pequenos momentos podem-no transportar para um outro local, tempo, pessoa: Para uma história que pode nunca ter acontecido há meses, anos, que demorou ou não até ser fácil e confortável de lembrar, de esquecer. Um cheiro, livro, filme, espaço, sotaque, palavra.
Tira notas mentais mais rápido do que as consegue mentalmente escrever e antes que o consiga ignorar está perdido em nostalgias do que já foi e do que nunca foi ao mesmo tempo.
Desta vez lembrou-se de uma mulher de cabelos negros e olhos genuinamente interessados no que tinha para dizer. Uma que não respondia com o que seria esperado, que queria saber o que ninguém se atrevia ou preocupava em perguntar.
Suspeitava que ela contava os dias até deixar de fazer perguntas. Melhor, não os contava, valorizava o hoje e despedia-se sempre como fosse a última vez. Até que um dia tinha sido mesmo. Inevitável, ambos sabiam. Bem, era essa a mulher que lhe tinha aparecido em frente dos olhos cansados naquela noite chuvosa de copos generosos. Havia outras, com as quais tinha histórias mais engraçadas, talvez até outras mais interessantes e bem mais bonitas, mas tinha sido esta que decidira fazer-se ver hoje.
Lembrou-se dos beijos que sorriam para ele, das maçãs do rosto que denunciavam o que queria que lhe fizesse, da mão que lhe acariciava o peito e a barriga depois de saciado o desejo carnal. Tanta ternura, tanta vontade partilhada. Lembrou-se de como olhou para ela, de como moveu as mãos ao longo do pescoço dela, fixando-se no seu maxilar de modo a que o polegar deslizasse para baixo do seu queixo o que fez com que ela levantásse a cabeça, para olhar para ele. Ficaram assim uns segundos, acho que ambos sabiam que não iriam partilhar mais momentos como este, e perderam-se em lábios húmidos e línguas apaixonadas.
Encolheu os ombros, levantou as sobrancelhas e, ainda olhando para o vazio que era ela, respirou fundo e bebeu o que restava do seu whiskey.
A noite continuou sem ela, a semana, o mês, o ano, a vida.
Tira notas mentais mais rápido do que as consegue mentalmente escrever e antes que o consiga ignorar está perdido em nostalgias do que já foi e do que nunca foi ao mesmo tempo.
Desta vez lembrou-se de uma mulher de cabelos negros e olhos genuinamente interessados no que tinha para dizer. Uma que não respondia com o que seria esperado, que queria saber o que ninguém se atrevia ou preocupava em perguntar.
Suspeitava que ela contava os dias até deixar de fazer perguntas. Melhor, não os contava, valorizava o hoje e despedia-se sempre como fosse a última vez. Até que um dia tinha sido mesmo. Inevitável, ambos sabiam. Bem, era essa a mulher que lhe tinha aparecido em frente dos olhos cansados naquela noite chuvosa de copos generosos. Havia outras, com as quais tinha histórias mais engraçadas, talvez até outras mais interessantes e bem mais bonitas, mas tinha sido esta que decidira fazer-se ver hoje.
Lembrou-se dos beijos que sorriam para ele, das maçãs do rosto que denunciavam o que queria que lhe fizesse, da mão que lhe acariciava o peito e a barriga depois de saciado o desejo carnal. Tanta ternura, tanta vontade partilhada. Lembrou-se de como olhou para ela, de como moveu as mãos ao longo do pescoço dela, fixando-se no seu maxilar de modo a que o polegar deslizasse para baixo do seu queixo o que fez com que ela levantásse a cabeça, para olhar para ele. Ficaram assim uns segundos, acho que ambos sabiam que não iriam partilhar mais momentos como este, e perderam-se em lábios húmidos e línguas apaixonadas.
Encolheu os ombros, levantou as sobrancelhas e, ainda olhando para o vazio que era ela, respirou fundo e bebeu o que restava do seu whiskey.
A noite continuou sem ela, a semana, o mês, o ano, a vida.